Assim como toda grande etapa de desenvolvimento das crianças, o desfralde depende de fatores motores, cognitivos e emocionais para se realizar. Ou seja: Não pode e não deve ser forçado ou iniciado de acordo com o bem entender do adulto de referência.
Já ouvimos algumas vezes a seguinte pergunta: “As crianças de 2 anos desfraldam juntas no Quintal?”. A resposta é sempre a mesma: “Não!”.
Assim como não generalizamos os interesses e potências das crianças segundo sua idade, também não o fazemos com seus processos de desenvolvimento. Entender que cada criança tem seu tempo, sua maturação física e emocional e suas necessidades é de extrema importância para acompanhar e acolher de forma saudável todas as etapas do processo de desenvolvimento des pequenes.
Chamamos o desfralde coletivo de “adestramento”, pois nada mais é que treinar várias crianças a usarem o penico/a privada a cada 15 minutos, seguindo uma série de “dicas criativas” (ler livros sentada no penico até o xixi sair, comemorar a cada xixi ou coco feito no penico, criar um mural com estrelinhas a cada vez que o banheiro for usado e etc…). Definitivamente não acreditamos no adestramento como forma saudável para o desfralde.
Como proceder então para um desfralde gentil?
Observe a criança. O sinal precisa vir dela e não porque “estamos no verão e vamos aproveitar o calor para o desfralde acontecer”. Dê tempo para que o processo ocorra no tempo da criança. Haverá dias em que ela usará o penico, outros preferirá a fralda novamente. Esse movimento é natural e saudável durante o processo do desfralde. Não projete sua pressa na criança. Com um acompanhamento respeitoso e gentil, ela estará mais segura e se sentirá acolhida quando os escapes acontecerem- e eles naturalmente irão acontecer. Ah! E é claro: Não puna e nem brigue com a criança quando eles surgirem.
Perceba se a fralda da criança passa um bom tempo seca e convide-a para ficar sem fralda, principalmente se ela demonstrar incômodo. Caso ela não queira, entenda que fatores emocionais também estão ligados a isso.
Muitas vezes é só no momento da troca de fraldas que as crianças maiores, já desmamadas recebem cuidados exclusivos, contato pele a pele e olho no olho. É muito comum que as famílias estejam sentindo o “crescer” da criança, perdendo o bebê e ganhando uma criança grande. Essa insegurança e essa dor da finalização de ciclo também é sentida pela criança se projetada pela família. Surgem, nesses momentos, manifestações como falar igual bebê e exigir mais cuidados.
E o principal: Entenda que o desfralde não é só sobre a criança controlar o esfíncter mas também sobre se sentir acolhida e cuidada. Quando pensarmos em um desfralde gentil, lembremos que o treino e o adestramento, muitas vezes, traumatizam e tornam o processo doloroso para a criança.
Um tempo a mais gastando com fralda (caso não faça uso de fraldas ecológicas) pode significar saúde mental, bem estar e um processo saudável de desenvolvimento para a criança.